domingo, 18 de janeiro de 2015

Afrodisíacos: O desbravamento sensorial dos portugueses no Caminho das Índias


Sim, era preciso conservar os alimentos por mais tempo e amenizar o cheiro e sabor de estragado, mas não se engane achando que as especiarias vindas do Oriente serviam "apenas" como temperos...

Imagem do filme "The Mistress of Spices" baseado na obra de Chitra Divakaruni.
"O estímulo renovado dos sentidos foi uma das facetas mais exuberantes do Renascimentos, não apenas na expressão artística, mas também no desenvolvimento de uma sensualização dos costumes. Portugal era a porta de entrada desses produtos. Se, por um lado, o reino não conheceu a exaltação pictórica, poética, gastronômica e luxuriosa do corpo, ele constituiu-se na placa giratória que distribuía especiarias de luxo vindas do Oriente para as cortes da França e das ricas cidades italianas.

Um dos cronistas a perceber o desbravamento sensorial vivido pelos portugueses foi Garcia da Orta. De origem hebraica e amigo de Camões, ele dedicou-se ao estudo da farmacopeia oriental. A descoberta de novas faunas e flores permitiu-lhe saudar, com entusiasmo, os afrodisíacos largamente utilizados nesta parte do mundo. Ele não apenas menciona a cannabis sativa, banguê ou maconha, mas exalta também as virtudes do ópio. Fundamentado em sua convivência com os indianos, Orta sabia que o ópio era usado como excitante sexual capaz de duas funções: agilizar a "virtude imaginativa" e retardar a "virtude expulsiva", ou seja, controlar o orgasmo e a ejaculação. Além desses dois produtos, Orta menciona o bétel, uma piperácea cuja folha se masca em muitas regiões do oceano Índico, lembrando sobre o seu uso que "a mulher que há de tratar de amores nunca fala com o homem sem que o traga mastigado na boca primeiro"."

(DEL PRIORE, Mary. Histórias íntimas: sexualidade e erotismo na história do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2011, p. 37-38.)
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