Sim, era preciso conservar os alimentos por mais tempo e amenizar o cheiro e sabor de estragado, mas não se engane achando que as especiarias vindas do Oriente serviam "apenas" como temperos...
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Imagem do filme "The Mistress of Spices" baseado na obra de Chitra Divakaruni. |
"O estímulo renovado dos sentidos foi uma das facetas mais exuberantes do Renascimentos, não apenas na expressão artística, mas também no desenvolvimento de uma sensualização dos costumes. Portugal era a porta de entrada desses produtos. Se, por um lado, o reino não conheceu a exaltação pictórica, poética, gastronômica e luxuriosa do corpo, ele constituiu-se na placa giratória que distribuía especiarias de luxo vindas do Oriente para as cortes da França e das ricas cidades italianas.
Um dos cronistas a perceber o desbravamento sensorial vivido pelos portugueses foi Garcia da Orta. De origem hebraica e amigo de Camões, ele dedicou-se ao estudo da farmacopeia oriental. A descoberta de novas faunas e flores permitiu-lhe saudar, com entusiasmo, os afrodisíacos largamente utilizados nesta parte do mundo. Ele não apenas menciona a cannabis sativa, banguê ou maconha, mas exalta também as virtudes do ópio. Fundamentado em sua convivência com os indianos, Orta sabia que o ópio era usado como excitante sexual capaz de duas funções: agilizar a "virtude imaginativa" e retardar a "virtude expulsiva", ou seja, controlar o orgasmo e a ejaculação. Além desses dois produtos, Orta menciona o bétel, uma piperácea cuja folha se masca em muitas regiões do oceano Índico, lembrando sobre o seu uso que "a mulher que há de tratar de amores nunca fala com o homem sem que o traga mastigado na boca primeiro"."
(DEL PRIORE, Mary. Histórias íntimas: sexualidade e erotismo na história do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2011, p. 37-38.)
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