Toda folha tem a sua história...*
“Vou falar com o seu pai hoje. Vamos mandar fazer o seu horóscopo. Está na hora de passar hena na sua mão, antes que você suje a sua fama a ponto de ninguém mais querer casar com você.” (SURI, Manil. A morte de Vishnu. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. pág. 74)
“Enquanto isso, a sra. Asrani começou a cultivar o projeto de casar Kavita com o empenho de alguém que acabara de descobrir o verdadeiro objetivo da vida. Chamou o astrólogo da família e mandou fazer o mapa de Kavita (“três filhos, todos homens” prometeu o astrólogo, contanto que fizesse tudo direitinho, mas “cinco meninas, escuras como carvão” se não tomasse cuidado com Marte). Voaram cartas para parentes de toda parte (o mapa astral chegou por via aérea até o Canadá e Cingapura), vasculhando a terra em busca do par perfeito. Um anúncio foi redigido para a edição de domingo do The Times of Índia, mas acabou temporariamente engavetado depois de o astrólogo ter declarado que os doze domingos seguintes não eram auspiciosos.” (SURI, Manil. A morte de Vishnu. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. pág. 75)
SURI, Manil. A morte de Vishnu. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
* * *
Os casamentos arranjados, o preconceito racial e com as meninas na Índia são apenas alguns dos aspectos abordados neste interessante livro de Manil Suri. O enredo se passa em Mumbai, mais precisamente no prédio onde vivem famílias hindus e muçulmanas, além do vizinho ateu que tenta fazer a mulher refletir sobre religião e filosofia.
Várias histórias se entrelaçam, briga entre vizinhas, histórias de amor, jovens casais planejando fugas em meio as memórias de Vishnu o morador do patamar do prédio. Vishnu que come os restos de refeições que uma das avarentas moradoras lhe dá quando estão estragadas. Vishnu que foi o chofer e pegou o caro para levar uma prostituta para um passeio por Marine Drive. Vishnu que está doente no patamar do prédio e que ninguém socorre. Vishnu que é o cúmplice do jovem casal em fuga. Vishnu e a dupata de Kavita. E a dupata de Kavita que foi parar em mãos erradas.
Vishnu que amou Padmini devorando-a com manga madura. Trecho aliás, que não reproduzirei aqui para não perder o encanto. Uma verdadeira orgia gastronômica amarelo-manga...
* * *
“Em algum ponto do escuro há uma porção de aromas. Flutuam, fora de alcance. Pairam perfumes na periferia da sua percepção, recuando quando ele passa. Vai seguindo um enigma aromático, cominho ou açafrão, talvez, que voa no ar e escapa sem ser capturado. Há flores ali, e frutas também, e o cheiro de lama, de óleo e de chuva.
Quando os deuses descerem, Vishnu sabe, é por seus perfumes que serão reconhecidos. Ganesha terá o cheiro das frutas que ama, Varuna terá cheiro de mar. A brisa do rio anunciará a chegada de Saraswati, Indra trará a chuva. Krishna terá cheiro de tudo o que é doce, de leite, gur e tulsi. De sândalo e flores de kevda, de açafrão, de ghee, de mel.
E Lakshmi. Os lótus florirão sob seus pés, perfumando cada passo com sua fragrância. As mangas ficarão da cor do sol, enchendo o mundo com sua madurez. As plantas de tulsi oscilarão ao vento, sussurando seus segredos no ar. A terra se estenderá, rica e fragrante, esperando seu toque em sua pele.” (SURI, Manil. A morte de Vishnu. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. pág. 131)
* trecho da página 140.
3 comentários:
Olá Potira...
Vim te conhecer e achei o seu blog muito interessante...
Voltarei com muito prazer.
Beijos
Depois de uma séria e cautelosa consideração,
quero notificar-te que o nosso
"Contrato de amizade"
foi renovado para o novo ano de 2010.
Feliz ano novo e um caloroso abraço!
"Nunca desvalorize ninguém...
cologue cada pessoa perto do seu coração
porque um dia você pode acordar
e perceber que você perdeu um diamante
enquanto você estava muito ocupado colecionando pedras. "
Mande este abraço para todos que você não quer perder em 2010.
Obrigada Sirlei!!!
Volte sempre!
=)
Obrigada Rejane!
Postar um comentário