LITERATURA INDIANA
Confinada entre o Himalaia e o Oceano Índico, a Índia desenvolveu-se culturalmente isolada. Seus primeiros temas de contos alcançam, no entanto, o Ocidente já em Heródoto e Ctésias, embora seja difícil reconhecer a realidade imersa que se apresenta num conjunto de fantasias. Outros temas e contos indianos são conhecidos e os Upanichades pelos neoplatônicos de Bizâncio, mas, apenas no século XIX ocorre a descoberta real da imensa e importante literatura sânscrita.
Para sua apreensão pelo Ocidente duas dificuldades apresentam-se: a deformação dos textos por tratamentos com total ausência de senso estético ou pelas incríveis fantasias de meios espiritualistas heterodoxos e até por missões de certos gurus... Pouco é o conhecimento direto que temos do domínio indiano e raros também os trabalhos históricos e sociológicos (embora seja de se destacar Max Weber) ou os empreendidos pelos racionalistas, como Keyserling, Romain Rolland, René Guénon e Spengler.
A literatura do longínquo passado é por excelência religiosa e sem delimitações entre as disciplinas. Esta literatura sagrada compreende o Rig-Veda, escrito em sânscrito arcaico e que data aproximadamente do século XX a.C., os Vedas, os Brâmanes e os Upanichades. Apenas no século XIX da atual era são os textos fixados em escrita. No entanto, os brâmanes ortodoxos julgam a escrita indigna para fixar a santidade dos textos e, ainda hoje, é a transmissão oral que predomina na maioria dos centros de ensino superior indianos.
A unificação relativa do pensamento védico é produto da confluência de dois tipos diversos de pensamento religioso: o budismo e o jainismo, respectivamente derivador dos ensinamentos de dois poetas do século VI a.C., Buda e Mahavira. Nesta mesma época de imensas transformações culturais temas védicos servem para a elaboração das duas grandes epopéias indianas: o Maabarata e o Ramaiana. Exprimem mitos e valôres retirados da vida dos povos e elevados à dignidade sacra. O Maabarata apresenta um tema central de narração épica a respeito das lutas ocorridas entre duas famílias nobres e um notável enriquecimento com a apresentação de subtemas que, às vezes, quase atingem autonomia e hinos de caráter metafísico-moral. O Ramaiana, compilado por Valmique, narra as aventuras de um herói, Rama, que alcança o nível de divindade implacável quanto aos homens lançados em constantes hostilidades. Reelaborações menos grandiosas mas ainda importantes são os Puranas e os Tantras.
Embora uma literatura exclusivamente laica não tenha existido na Índia, podemos observar uma realidade lírica na qual o religioso não assume primeiros planos. Calidasa (século IV) escreveu numerosas peças de teatro, o Ritusamara - descrição das seis antigas estações do ano - e o Raguvança, no qual figura um resumo do Ramaiana.
Importante ciclo de contos e fábulas com versões hinduístas, budistas e jainistas numerosas é redigido em sânscrito sob o título de Pancatantra e fornece imensa fonte de inspiração temática às literaturas ocidentais, sendo autores que a ela recorreram, entre outros, Renart, La Fontaine, Anderson, Grimm e Goethe.
Outra importante tradição indu é constituída pelos ciclos de contos cujo procedimento de construção é a inclusão encadeada de episódios, tal como ocorre em "As Mil e Uma Noites". São exemplos o Brihat-Cathá e o Daçakumâracarita, atribuído a Dandin. Êste último romance clássico apresenta dez diferentes agrupamentos de aventuras e, embora com predominância do sentido moral, acumula o picaresco, o erótico e o burlesco.
Observamos agora que esta literatura, apresentada apenas em suas linhas mais gerais, não ultrapassa o domínio sânscrito, védico e clássico: é a imensa a variedade de línguas faladas na Índia e muitas apresentam rico patrimônio literário. Os dravídicos autóctones destacam-se pela literatura de quatro línguas diferentes dentre as catorze existentes. Apresentam também literatura algumas das atuais vinte e sete faladas em solo indiano, tais como o bengali, o marata, o penjabi e o assamês. A própria língua inglêsa, que assumiu a posição de língua de relações gerais, apresenta autores da importância de um Tagore ou de Kamala Markandaya. As literaturas dravídicas apresentam vários séculos de expressão literária de inestimável importância e valor, mas, inacessíveis pela deficiência de traduções.
A mais importante língua moderna da Índia é o hindi, falado com numerosas variantes dialetais por 125 milhões de indus. Sua literatura, com tradição de treze séculos, apresenta como autores importantes Kabir (1440-1518), hinduísta extremamente influenciado pelo islamismo, e Nanak (1469-1538).
Falado por 55 milhões de hindus, o bengali apresenta riqueza literária superior a qualquer outro grupo linguístico indiano. O texto bengali de primeira importância é Cariapadas, que data do século X e reúne cantos místicos. O século XIX presencia a elevação do bengali ao nível literário nacional e como expressão do amálgama de influências tradicionais e ocidentais em grandes apresentações sincretistas. Rammohan Rây (1772-1833) exerceu imensa influência nesta fundação de literatura nacional e, logo, inúmeras eram as traduções de autores estrangeiros. Michael Madhusudan Datta (1824-1873) adaptou o Ramaiana a uma visão cristã ao escrever Meganada-Vada. Rabindranath Tagore (Rabindranâth Thâkur - 1861-1941), autor de "A Religião do Homem", "A Carta ao Rei", "Gora", e "A Máquina", alcançou repercussão mundial e foi detentor de um prêmio Nobel.
RAMOS-DE-OLIVEIRA, Newton; KOPKE, Carlos Burlamaqui; BONINI, Marylene. História da literatura mundial. São Paulo: Fulgor, 1968. vol. 7. Pág. 19-21.
*Da bibliografia de orientação:
Renou L. - Les littératures de l'Inde - Paris, Presses Universitaires de France, 1951.
2 comentários:
Se não me falha a memória, é o maior livro do mundo! Talvez um dos mais antigos também!
Flor...
Pelo que eu leio, um dos maiores e mais antigos é o Mahabharata...
=)
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