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quinta-feira, 7 de julho de 2011

O Jardim de Badalpur - Kenizé Mourad

   Ainda não li (mas talvez em breve leia) Em nome da Princesa Morta livro da mesma autora que trata da sultana, mãe de Zahr. Esta filha da sultana é a personagem principal deste livro e descende de um dos últimos soberanos de Constantinopla e é filha de um rajá da Índia. 
   Criada por famílias adotivas na França e educada em um colégio católico, aos 21 anos de idade Zahr segue para a Índia em busca de sua família. Sua mãe falecera quando ela era muito pequena, como havia fugido grávida, haviam dúvidas quanto a paternidade. 
   Nesta viagem, Zahr conhece seu pai, o velho Rajá de Badalpur e através deste, as tradições da Índia muçulmana dos arredores de Lucknow. Neste livro publicado originalmente em 1988, entre outros aspectos podemos perceber a decadência econômica de alguns antigos rajás após a independência indiana, as articulações políticas, conflitos religiosos entre hindus e muçulmanos e o preconceito ocidental em relação ao Islã.

MOURAD, Kenizé. O Jardim de Badalpur. São Paulo: Globo, 2000.

Título original em francês:
Le Jardin de Badalpour
Copyright © 1988 by Librarie Arthème Fayard, Paris.
Tradução Ana Montoia

Confira alguns trechos interessantes da obra:


"(...) a origem está no sistema de castas: os hindus não querem beber na mesma xícara de um indivíduo de casta inferior, na xícara de um intocável, de um muçulmano ou de um cristão, considerados também intocáveis. Se o fizerem, estarão conspurcados e devem prestar-se a um processo de purificação bastante longo e complicado.
- Pensei que depois da Independência as castas tivessem sido abolidas.
- No papel. Na prática, à exceção de alguns ambientes modernos e intelectualizados, como os amigos que nos receberam em Délhi, as tradições continuam arraigadas. A riqueza não muda nada: um intocável pode ser rico, mas será sempre menosprezado pelo brâmane, mesmo o mais pobre. Sobretudo, jamais se casam fora de suas castas! As raríssimas pessoas que o fazem são impiedosamente rejeitadas pela comunidade." (MOURAD, 2000, p.136)

"O motivo estaria neste sincretismo próprio aos indianos, para os quais nada é contraditório, senão superficialmente, pois, desde que a atravessamos, encontramos a Unidade. Filosofia talvez inerente à imensidão deste país vinte vezes conquistado, por arianos, gregos, árabes, mongóis, britânicos,... e que, a cada vez, por sua doce e invasora inércia, absorve o elemento estrangeiro e dele faz sua riqueza." (MOURAD, 2000, p. 152)

"Algum tempo antes, Zahr fora ver a esposa de seu tintureiro, que pusera no mundo um menino. Cercada como uma rainha pela família, a mulher resplandecia de felicidade.
- A deusa Lakshmi abençoou-me mandando-me um filho. Até agora, só pus no mundo pedras...
Pedras? Zahr olhara para ela sem compreender. Nunca ouvira tal coisa. Queria dizer fetos ressequidos?
- E, toda vez que paria novamente uma pedra, meu marido falava em me mandar embora, e eu passava meu tempo chorando...
Continuaram nesse tom até Zahr entender que o que chamava de "pedras" eram as meninas que punha no mundo. Quatro pedras, das quais duas já estavam mortas por falta de cuidados, como a cada ano morriam pelo país centenas de milhares de outras meninas." (MOURAD, 2000, p. 353)

"É melhor pagar quinhentas rupias agora que cinquenta mil mais tarde - declarou-lhe um dia uma mulher que acabara de abortar.
Vendo que Zahr não entendia, explicou:
- Quinhentas rupias para se livrar de uma menina, cinquenta mil para casá-la..." (MOURAD, 2000, p. 354)

"- Esses fanáticos não representam o hinduísmo da mesma maneira que os extremistas muçulmanos não representam o Islã! Nossos textos sagrados ensinam que todo ser humano, de qualquer religião, carrega em si a centelha divina e que é pela piedade e pelo trabalho interno que ele consegue a realização última. Se, durante séculos, a casta dos brâmanes confiscou o hinduísmo e reinterpretou-o a sua maneira, é um golpe político que nada tem a ver com a religião!" (MOURAD, 2000, p. 400)

"- Muito bem! - grita Zahr, entusiasmada. - Imagine se em todos os países do Islã fossem formados grupos de mulheres decididas a entender a verdadeira mensagem do Alcorão, a encontrar o espírito de progresso que traz a sua época; seria um verdadeiro renascimento do mundo muçulmano! Os homens não entendem que, trancando as mulheres, é a eles que fazem o maior mal. Como uma mãe ignorante pode formar o filho para enfrentar a realidade? Como uma esposa submissa pode ser a interlocutora, o espelho de que todo homem precisa? Adulados pela mãe, depois pela esposa, por que os homens teriam dúvidas a respeito de si mesmos? Estou cada vez mais convencida de que o progresso e a prosperidade de nossas sociedades passam pela educação e pela liberação das mulheres. O que não significa que devemos copiar o Ocidente. cabe a nós encontrar nosso próprio modelo." (MOURAD, 2000, p. 412)
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4 comentários:

"Tah" disse...

Já vi esse livro.. pensei em comprar mais acabei levando outroooo...... é sempre bom ouvir comentários assim, agora to morrendo de vontade de ler ele.. AIiiiiii ameiiii !!!!

۞ Potira ۞ disse...

Thaís, o livro é bom, mas fica a dica pra ler primeiro o "Em nome da Princesa Morta", acho que vai ser mais proveitoso...

=)

MARLI RAMIRES disse...

Estou lendo agora mesmo.
E estou meio chocada com a insistência do pai à prática do incesto.
Não sei se isso nas leis mulçumanas é viável.
Estou achando o livro lento demais e estou quase acabando e não vendo a protagonista feliz. Pelo contrário, o livro deu um salto dos 21 anos dela aos 41. E agora vai explicar o que aconteceu neste meio tempo. Estou até perdendo a vontade de ler o "Em nome da princesa morta"

MARLI RAMIRES disse...

Estou lendo agora mesmo.
E estou meio chocada com a insistência do pai à prática do incesto.
Não sei se isso nas leis mulçumanas é viável.
Estou achando o livro lento demais e estou quase acabando e não vendo a protagonista feliz. Pelo contrário, o livro deu um salto dos 21 anos dela aos 41. E agora vai explicar o que aconteceu neste meio tempo. Estou até perdendo a vontade de ler o "Em nome da princesa morta"

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