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terça-feira, 26 de junho de 2012

"Indiana": não se deve julgar um livro pela capa!


Caros leitores, fiquei um tanto receosa de publicar ou não esta breve resenha sobre o livro Indiana um romance espiritualista de Lina de Alexandria. (Editora Butterfly, 2002)

Mas esse é seguramente o pior livro que já li e faz valer o ditado de que não se deve julgar um livro pela capa!

A arte do livro é belíssima, veja pela capa ao lado (reimpressão do outono de 2009). O design de início de cada capítulo é muito bonito, mas o que estraga é o enredo em si...

Venho publicando aqui no blog constantemente dicas de livros sobre a Índia ou que tenham alguma relação com o subcontinente indiano. Como historiadora, estudante de Literatura e leitora voraz fico atenta a algumas questões quando tenho em mãos algum livro com a temática indiana.

A autora tinha uma boa ideia que era a história de uma jovem polonesa que sofreu os horrores dos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. A personagem passou por um processo de modificação em sua vida quando esteve na Índia, a convite do Sr. Dahalin e sua amorosa família. Quando retorna à Europa, dedica-se ao trabalho de educar crianças com deficiência auditiva e por trajar-se com vestimentas tradicionais indianas, passa a ser conhecida como Indiana. No fim de sua vida ela consegue fazer o bem, ajudar seu filho legítimo e seus filhos do coração...

Nada contra a proposta, só que além da história ter um ritmo narrativo muito estranho há uma série de percalços que seriam evitados se a autora tivesse um mínimo de interesse em pesquisar sobre os temas que estaria abordando. Para ter uma ideia, leia o trecho abaixo:

"Na viagem, Natasha não falava, apenas observava. Dahalin falava inglês e o idioma de seu país natal, e nenhuma dessas línguas ela sabia. Foi aí que se deu conta de que ficaria em um país desconhecido, cuja língua ela não falava.
(...)
Natasha desejava saber o que falavam, sabia que eram agradecimentos.
Ia aprendendo com dificuldade algumas palavras indianas, repetia muitas vezes até conseguir falar." 
(ALEXANDRIA, Lina de. Indiana. São Paulo: Butterfly, 2002. Pág 59-60.)
  
O idioma de seu país natal? Palavras indianas? Como assim???

Na postagem sobre as Línguas Indianas (assim mesmo, no plural) eu já discutia sobre a ignorância das pessoas achando que existe uma língua chamada "indiana", desconhecendo a existência de cerca de 150 línguas (sem contar os dialetos) diferentes faladas no território indiano.

Como pode uma escritora não pesquisar sobre um assunto ao escrever sobre ele? Ela não precisaria contratar um historiador para fazer uma pesquisa detalhada, bastaria uma rápida pesquisa na internet. E veja que, como historiadora eu nem estou propondo uma análise sobre "Segunda Guerra Mundial", campos de concentração nazistas nem nada do gênero. Estou apenas questionando temas referentes à Índia e percebo um desconhecimento grande aliado a uma série de estereótipos dos indianos.

A história se prende a clichês que são facilmente identificados no decorrer da narrativa. Tornando-a óbvia e desinteressante. É fácil adivinhar que o irmão do novo estudante alemão da escola de Natasha é o filho que ela teve quando foi violentada pelo militar alemão no campo de concentração do qual foi separada recém nascido... Ainda mais confusa é a proposta de defesa do estuprador como se ele estivesse encantado pela beleza de Natasha e amava-a sem ser correspondido!?? (Vide página 184.)

Eu entendo que a proposta do livro é ser um "romance espiritualista" e essa espécie de “lei do retorno” deve ser uma temática importante para o público leitor desse tipo de obra, mas não precisava ser tão óbvio que empobrecesse desta maneira a narrativa.

Eu aconselharia todos os escritores que se propõem a escrever algum livro sobre a Índia ou tendo a Índia como cenário, que ao menos se dediquem à leitura de bons romances indianos (como os fabulosos livros de Salman Rushdie, só para citar um exemplo) e que pesquisem sobre a cultura do povo indiano antes de sair escrevendo sobre um assunto que desconhecem.

Não é minha proposta aqui discutir História & Literatura e suas diferenças metodológicas, mas apenas indicar boas sugestões bibliográficas de forma inteligente e fundamentada (o que infelizmente não é o caso deste livro).
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6 comentários:

Soraia disse...

Infelizmente Potirah, o que existe hoje em dia na literatura espírita é muita porcaria. Querem pegar carona em todo tipo de coisa. "Novela indiana que faz sucesso, oba...vamos fazer um livro!"
Acho que esse é o pensamento do mercado ultimamente.

Certa vez, caí na besteira de comprar um livro do Hermínio C. Miranda, chamado "Arquivos psíquicos do Egito" por conta de sua bela capa e pelo tema "Egito".
Doce ilusão, amarga decepção.
O autor passa tempo todo querendo convencer ao leitor que "espírito existe".
Não entendi o propósito da obra.
Quando alguém me pede uma sugestão sobre livros espíritas, recomendo os livros de Chico Xavier, que embora sejam antigos e com capas bem simplórias, são consistentes e úteis, mais do que estas coisas que a gente encontra a rodo nas livrarias atualmente.
Belas capas e péssimo conteúdo.
Já li alguns livros desta editora (e de outras também, com coisas bizarras) e infelizmente creio que ele são editados mais para quem não é espírita e acha que espírito é mera ficção ,do que para alguém que seja espírita ou que queira aprofundar-se no tema com mais seriedade.

Um beijo.

Anônimo disse...

Saudade de passar aqui, sempre gosto do que tu posta.

Um beijão.

Flor Baez disse...

Chega a ser hilário isso. Como uma pessoa se propõe a escrever um livro e sequer não faz um estudo e uma pesquisa antes? Deus!

Sei que não podemos julgar um livro pela capa, mas a capa deste livro já é bem apelativo: taj mahal, mulher de saree que lembra a Juliana Paes, hummm... Desconfio.

Muito pertinente tua postagem, Potira! Por que você é uma referência de cultura indiana. Eu mesma já comprei muitos livros que você indicou no blog. Obrigada pelo toque! rs

Beijos!
Com amor,

Flor Baez disse...

Chega a ser hilário isso! Como pode uma pessoa se propor a escrever um livro e não fazer uma pesquisa, um estudo antes? Mas é isso que a Soraia falou, a galera embarcou cegamente na onda de caminho das índias! rs

Sei que não podemos julgar o livro pela capa, mas a capa deste livro deixa uma desconfiança. Taj Mahal, uma indiana de saree que parece a Juliana Paes... :( Fail!

Muito pertinente sua postagem, Potira! Você é uma referência na blogosfera de cultura indiana. Eu mesma já comprei muitos livros que vc indicou aqui. Obrigada pelo toque!
Beijos
Flor

۞ Potira ۞ disse...

Soraia e Flor,

Vocês entenderam o ponto que eu propus com essa resenha. Não quero aqui desdenhar da autora e da obra, mas fiquei apavorada com o que li.

Assim como sugiro bons livros, alerto também para alguns que não indicaria para uma boa leitura!

=)

Penelope,

Seja sempre muito bem vinda! Bom que tu gosta de passar por aqui e deixar um recadinho!

=)

۞ Potira ۞ disse...

E sim, apesar de ter sido escrito em 2002 o livro foi relançado com esta capa "telenovelesca" no outono de 2009...

Pra pegar os leitores desavisados...

Eu comprei um exemplar NOVO por R$2,50 e acho que foi um desperdício!

=D

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