"(...) Sabia agora que a Índia não ficaria contente em ser pano de fundo, que não era o papel de parede de ninguém, que insistia em se imiscuir na vida de todo mundo, intrometendo-se nela, distorcendo-a, modelando-a tanto que se tornava irreconhecível. Descobriu que a Índia era um local de intrigas políticas e corrupção econômica, um local ocupado por gente real com suas necessidades incessantes, desejos, ambições e aspirações humanas, e não a entidade exótica, espiritual e misteriosa criada pela imaginação ocidental." (UMRIGAR, 2009, pág. 59)
"(...) sentiu ter tido um vislumbre do que significava ser um homem que era casado com uma nuvem, sempre mudando, filtrando a luz, mas também contendo a chuva." (UMRIGAR, 2009, pág. 71)
"(...) Este era um país onde as fronteiras entre as metáforas e a realidade, entre os fatos e a ficção, eram praticamente inexistentes porque coisas estranhas e improváveis aconteciam o tempo todo. (...)" (UMRIGAR, 2009, pág. 112)
"BOMBAIM.
Que palavra enganadora, de som suave como pão de ló na boca. Até o novo nome da cidade, Mumbai, carrega essa suavidade redonda, de modo a deixar o visitante despreparado para a realidade dessa cidade gigante e enlouquecedora que é uma agressão, um soco na cara. Tudo nesta cidade ataca você de imediato, assim que se abandona a tranquilidade verde das montanhas que a circundam e nela se adentra: as fileiras de favelas que parecem construídas por e para pássaros gigantes e exêntricos em vez de seres humanos; os prédios antigos em ruínas que há décadas não veem uma demão de tinta e muitos dos quais são mantidos de pé por andaimes; os prédios novos e altos que se erguem de ruas miseráveis e apontam como dedos finos em direção a um céu sujo e poluído; o tango insano de riquixás motorizados, carros, bicicletas, lambretas e carros de boi competindo por seu centímetro de espaço e criando um escarcéu barulhento de buzinas, berros e vitupérios estrondosos; os pedintes - sem braços, pernas, dedos, olhos, e ainda os leprosos, meu Deus, até sem nariz - cortando por entre os veículos, os pernetas sentados em skates artesanais, dificultando para os motoristas os localizarem; e, acima de tudo, as pessoas, a constante e sempre presente massa de pessoas, milhares delas em cada rua, esparramando-se das calçadas invadidas pelas favelas para as ruas, esparramando-se das calçadas invadidas pelas favelas para as ruas, ziguezagueando pelo trânsito, contornando o capô de um carro para evitar serem atropeladas por ele, e sempre movendo-se e movendo-se, uma procissão em movimento. (...)" (UMRIGAR, 2009, pág. 132-133)
"(...) Frank sabia como os indianos eram problemáticos em relação ao sexo, estando consciente da peculiar combinação de recato feminino e opressão masculina que era a marca registrada dos filmes de Bollywood e, peloque lhe constava, da própria cultura indiana. (...)" (UMRIGAR, 2009, pág. 143)
"(...) Era uma típica característica indiana - vasculhar sua vida sem dó nem piedade e depois mostrar-se insuportável e prepotentemente superior. Como se eles soubessem mais da vida do que você." (UMRIGAR, 2009, pág. 257)
UMRIGAR, Thrity. O Tamanho do Céu. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
Título Original: The Weight of Heaven.
© 2009 by Thrity Umrigar
2 comentários:
Oi, Potira, adoro esses teus posts com fragmentos de livros. Sempre adorei ler sobre esse mundo e teu blog mostra de tudo um pouco, de maneira inteligente, sutil e com bom gosto. Obrigada por compartilhar! Não vejo a hora de ler algum dos livros desse autor. Me pareceram muito interessantes.
Abraço :)
Oi Marília,
Bacana que tu gosta dos posts... Eu faço isso desde o começo da faculdade e é bacana pra lembrar sobre o que fala cada livro que eu leio... =D
Obrigada pelos elogios. Tu tens que ler pelo menos "A distância entre nós" e "A doçura do mundo" desta escritora, esse livro aqui não é lá muito bom não...
Fazer o que né? Os outros me pareceram melhores... hehe
Um abraço e até mais
=)
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