Convidado por uma amiga para jantar no restaurante O Elefante em Viena, José Saramago viu pequenas esculturas de madeira postas em fila. Da direita para a esquerda, principiando pela Torre de Belém em Portugal, vinham representações de vários edifícios e monumentos europeus, enunciando um intinerário. Ali havia uma história...
Foi-lhe dito então que se tratava da viagem de um elefante que no século XVI foi trazido da Índia para Portugal. O elefante, de nome Salomão em 1551 foi dado como presente de casamento ao arquiduque austríaco Maximiliano II pelos monarcas portugueses Dom João III e sua mulher Catarina d'Áustria.
"(...) Aproximava-se um homem de rasgos indianos, coberto por roupas que quase se haviam convertido em andrajos, uma mistura de peças de vestuário de origem e de fabrico nacional, mal cobertas ou mal cobindo restos de panos exóticos, vindos com o elefante, naquele mesmo corpo, há dois anos. Era o cornaca. (...)" (SARAMAGO, 2008, pág. 19-20)
"(...) Subhro. Subhro, repetiu o rei, que diabo de nome é esse, Com agá, meu senhor, pelo menos foi o que ele disse, aclarou o secretário. Devíamos ter-lhe chamado Joaquim quando chegou a Portugal, resmungou o rei." (SARAMAGO, 2008, pág. 24)
"(...) Esqueci-me do significado do nome do cornaca, como era ele, estava perguntando o rei, Branco, meu senhor, subhro significa branco, ainda que não o pareça. (...)" (SARAMAGO, 2008, pág. 32)
"(...) O passado é um imenso pedregal que muitos gostariam de percorrer como se de uma auto-estrada se tratasse, enquanto outros, pacientemente, vão de pedra em pedra, e as levantam, porque precisam de saber o que há por baixo delas. (...) (SARAMAGO, 2008, pág. 33)
"(...) Não é todos os dias que aparece nas nossas vidas um elefante." (SARAMAGO, 2008, pág. 63)
"(...) um preceito velho como a sé de braga, aquele que determina que terá de haver um lugar para cada coisa a fim de que cada coisa tenha o seu lugar e dele não saia. (...)" (SARAMAGO, 2008, pág. 123)
"(...) Ter partilhado as horas com este homem foi uma das mais felizes experiências da minha vida, talvez porque a índia saiba algumas coisas que nós desconhecemos. (...)" (SARAMAGO, 2008, pág. 155)
"(...) São costumes da índia, meu senhor, Estamos em espanha, não na índia, Se vossa alteza conhecesse os elefantes como eu tenho a pretenção de conhecer, saberia que para um elefante indiano, dos africanos não falo, não são da minha competência, qualquer lugar em que se encontre é índia, uma índia que, seja o que for que suceda, sempre permanecerá intacta dentro dele, Tudo isso é muito bonito, mas eu tenho uma longa viagem por diante (...)" (SARAMAGO, 2008, pág. 162-163)
"(...) O que nos vale é o bom feitio dos elefantes, especialmente dos oriundos da índia. Pensam eles que é preciso ter muita paciência para aturar os seres humanos, inclusive quando nós os perseguimos e matamos para lhes serrarmos ou arrancarmos os dentes por causa do marfim. (...)" (SARAMAGO, 2008, pág. 166)
"(...) a voz pública que, como sabemos, é capaz de jurar o que não viu e afirmar o que não sabe. (...) (SARAMAGO, 2008, pág. 189)
"(...) como aconteceu àquele rapazinho que, tendo perguntado ao avô por que se chamava elefante ao elefante, recebeu como resposta que era por ter tromba. (...)" (SARAMAGO, 2008, pág. 250)
"(...) Ia o elefante no seu passo medido, sem pressa, o passo de quem sabe que para chegar nem sempre é preciso correr. (...)"(SARAMAGO, 2008, pág. 251)
"(...) segundo antiquíssimas histórias e as subsequentes lendas, tinham também andado, depois de haverem atravessado os pirinéus, o famoso general cartaginês aníbal e seu exército de homens e elefantes africanos que tantos desgostos viriam a dar aos soldados de roma, (...)" (SARAMAGO, 2008, pág. 214-215)
"(...) mas a história assim o deixou registrado como facto incontroverso e documentado, avalizado pelos historiadores e confirmado pelo romancista, a quem haverá que perdoar certas liberdades em nome, não só do seu direito a inventar, mas também da necessidade de preencher os vazios para que não viesse a perder-se de todo a sagrada coerência do relato. No fundo há que reconhecer que a história não é apenas selectiva, é também discriminatória, só colhe da vida o que lhe interessa como material socialmente tido por histórico e despreza todo o resto, precisamente onde talvez poderia ser encontrada a verdadeira explicação dos factos, das coisas, da puta realidade. Em verdade vos direi, em verdade vos digo que vale mais ser romancista, ficcionista, mentiroso.(...)" (SARAMAGO, 2008, pág. 224-225)
"(...) Como já deveríamos saber, a representação mais exacta, mais precisa, da alma humana é o labirinto. Com ela tudo é possível." (SARAMAGO, 2008, pág. 237)
"(...) Às árvores pintadas não caem as folhas." (SARAMAGO, 2008, pág. 240)
SARAMAGO, José. A viagem do elefante. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
5 comentários:
Potira....que lindos esses trechos...vontade de ler o livro todo...
Vim desejar pra voce um ano cheio de luz e tantas alegrias com as pessoas queridas ao seu redor.
Grande abraço,
Ester
Ester,
Leia o livro todo, é muito legal...
Muito obrigada pelas boas vibrações! Que o seu ano novo também seja repleto de luz e alegrias...
Um abraço.
Já tinha ouvido falar deste de livro do Saramago, cheguei a ter ele em mãos, mas não li.
Gostei bastante da forma como escolheu estes trechos. Vou lê-lo assim que terminar alguns outros.
Rodrigo,
Eu não sei se tu gostas de Saramago, mas eu adorei o livro. Já ouvi amigos que falaram que leram este e não gostaram...
Boas leituras!!!
=)
Foi um livro que adorei, mas para o Memorial do Covento é ainda melhor
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