"Os templos ainda estão lá, resplandecendo. As construções antigas, uma variação bem peculiar dos pagodes orientais, estão meio derrubadas, mas ainda guardam um certo charme. No templo mais suntuoso, conhecido popularmente como Templo dos Macacos, os olhos de Buda ainda te vigiam, imponentes. Pintados no que parece ser uma grande stupa (uma espécie de urna funerária budista), eles são o símbolo da cidade, estampados em muros, portas, camisetas, bonés - e até em capas para celulares! Nas lojas do centro antigo, uma infinidade de mandalas (capazes de entreter esses dois viajantes brasileiros por algumas horas - imagina se não compramos algumas), todas pintadas à mão, te lembram que arte e religião no Nepal estão ainda muito ligadas.
Mas em volta dessas coisas maravilhosas, uma pobreza terrível. Uma sujeira que se percebe em apenas uma caminhada. E uma apreensão latente nos rostos nepaleses. A situação por lá não era das melhores. Explicando rapidamente, um grupo maoísta (e extremista) que é contra o governo central vinha aterrorizando a população (àquela altura, Katmandu estava praticamente sitiada). Essa instabilidade política, mais a corrupção, colabora para pintar um quadro não muito positivo desse que já foi um dos destinos mais exóticos e procurados do mundo.
(...)
Quando eu já estava quase melancólico, caí na bagunça que era o aeroporto de Katmandu - um mercado livre de pedintes, carregadores de mala, miseráveis de toda sorte querendo um pouco mais do dinheiro que os turistas deixam por lá. Entre check-in e outras formalidades (pagamentos de taxas de aeroporto, excesso de bagabem), eu já tinha perdido parte do humor e da fantasia..."
CAMARGO, Zeca. A fantástica volta ao mundo/ registros e bastidores de viagem por Zeca Camargo. São Paulo: Globo, 2004. Páginas 153 a 157.
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