Nayarana e seu destino
Um conto da Índia
Era uma vez dois irmãos. O primeiro era fabulosamente rico, o segundo, Nayarana, era extremamente pobre.
Uma noite, não querendo morrer de fome, Nayarana decidiu roubar trigo nas terras do irmão.
Quando todos já dormiam, ele entrou no campo e colheu algumas espigas. De repente, um homem vestido de preto surgiu e lhe disse:
- O que você está fazendo aí, Nayarana?
- Quem é você? E como sabe meu nome?
- Eu sou o destino de seu irmão e zelo pelos seus bens, mesmo quando ele está dormindo!
- É por isso que tudo dá certo para o meu irmão! Seu destino zela por seus bens até mesmo quando ele dorme! E o meu? Onde está o meu destino, por que ele não cuida de mim?
- Você? Você não deu sorte! - responde o homem de preto. - Seu destino é um grande preguiçoso, que dorme durante o dia e sonha à noite. Para que você nunca o incomodasse, ele foi morar no deserto, do outro lado das três montanhas.
- Mas isso não vai ficar assim! - gritou Nayarana. - Vou acordar o meu destino para que ele encha de trigo as minhas duas mãos!
E lá foi ele... O sol queimava sua pele, as pedras feriam seus pés descalços. Por fim, ele chegou a uma cidade maravilhosa.
Todas as mulheres eram lindas, as hortas cheias de legumes e os pomares cheios de frutas. No entanto, todo mundo tinha um semblante triste.
Nayarana aproximou-se de um velho e perguntou:
- Sua cidade, suas mulheres, suas hortas, seus pomares são lindos, mas vocês são tristes! Por quê?
- É por causa do nosso rei - respondeu o velho. - Ele quer construir uma torre que alcance o céu. Mas cada vez que se coloca uma pedra durante o dia, ela cai durante a noite. Você, que vai se encontrar com seu destino, pergunte a ele por que nossa torre não sobe!
Nayarana prometeu que perguntaria e continuou sua caminhada.
O sol queimava sua pele, as pedras feriam seus pés descalços. De repente, ele viu uma mangueira ao longe. Se aproximou, mas a árvore estava murcha, sem forças, e lhe disse:
- Você, que vai ver seu destino, pergunte para ele por que estou tão fraca e não consigo nem mesmo aguentar o peso dos meus frutos!
Nayarana prometeu que perguntaria e continuou sua caminhada.
O sol queimava sua pele, as pedras feriam seus pés descalços; fatigado, ele avistou o pico da primeira montanha. Viu um ninho com três filhotes de águia. E uma serpente que estava subindo até lá para comê-los. Nayarana pegou uma pedra, atirou e esmagou a cabeça da serpente. Então, do céu, desceu a mamãe águia que lhe disse:
- Eu vi tudo, Nayarana! Eu estava voando alto demais para conseguir descer e salvar meus filhotes! Graças a você, eles estão seguros. Peça-me o que quiser, pois, se eu puder ajudar, o farei com prazer.
Nayarana refletiu, lembrou-se do sol que queimava sua pele e das pedras que feriam seus pés descalços e respondeu:
- Você, que voa no céu, leve-me ao deserto, atrás das três montanhas!
Nayarana então subiu nas costas da águia, que voou pelo céu, atravessando montes e planícies, deixando o deserto para trás.
Nayarana foi caminhando até que trombou com um homem dormindo na areia. Aproximou-se e exclamou:
- Certamente você é meu destino! Ei, destino, acorde! Já dormiu muito, seu preguiçoso!
O destino roncava. Nayarana o balançou, xingou, lhe deu uns pontapés, mas o destino se virou de lado e continuou dormindo.
Nayarana pensou, colocou as mãos nos bolsos... e subitamente sorriu. Tirou do bolso um raminho de palha de uma espiga de trigo que ele tinha roubado do seu irmão.
E com o raminho, ele começou a fazer cócegas na planta dos pés do destino, suplício ao qual ninguém aguenta por muito tempo. O destino começou a rir. Nayarana o agarrou pelos ombros:
- Vamos! Em pé, seu malandro! Você acordou!
E o destino, praguejando, precisou seguir Nayarana.
Mas a vida não é assim tão malfeita: logo Nayarana e seu destino tornaram-se amigos. E os caminhos são sempre mais curtos quando caminhamos em dois, tanto que rapidamente eles chegaram perto da árvore murcha.
- Destino, por que esta mangueira está tão fraca que não consegue suportar o peso de seus frutos?
- Porque um idiota escondeu um tesouro em suas raízes. Por isso, ela não consegue mergulhar muito fundo na terra para buscar seu alimento. Tire o tesouro e a árvore vai resplandecer de saúde!
Nayarana cavou, encontrou um cofre, abriu... Estava cheio de pedras preciosas, de pérolas finas e peças de ouro... Ele carregou o cofre nas costas e os dois continuaram a caminhada. E a árvore já começava a melhorar...
Caminharam, caminharam, até avistarem a bela cidade.
- Destino - perguntou Nayarana -, por que é que aqui, quando se coloca uma pedra durante o dia, ela cai durante a noite?
Nayarana foi encontrar o rei. Explicou-lhe tudo e terminou dizendo:
- Se isso facilitar as coisas, eu posso ser o marido da princesa! O rei mediu aquele homem sujo, pobre e desmantelado. E não se animou muito... Então, como quem não quisesse nada, Nayarana abriu seu cofre e, como quem não quisesse nada, o rei olhou dentro dele...
... e, quando viu os objetos de ouro, as pedras preciosas, as pérolas finas, ele aceitou o casamento.
Nayarana tornou-se rei e marido da feliz princesa. Começou a construir a torre e ela subiu, porque cada pedra colocada era o reflexo do sorriso da bela Saraswati!
E ele sempre guardou em seu bolso um raminho de palha. Nunca se sabe! Se seu destino voltasse a dormir, ele já saberia o que fazer para despertá-lo.
GENDRIN, Catherine. Volta ao mundo dos contos nas asas de um pássaro. São Paulo: Edições SM, 2007, página 89 a 93.
5 comentários:
Muito boom o conto! o/
Legal né Manu?
Estou selecionando mais histórias indianas para o meu repertório de contação de histórias.
Semana que vem chegam meus dois novos livros de contos indianos...
=P
Aeeeeeeeee!
Aproveita e coloca mais uns o/
Muito bom!
Pode crer Manu, logo logo chegam post novos sobre os novos livros...
=)
Obrigada Eder!
=)
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