MANHÃ DE BANGALORE
AURICELESTE manhã com as estrelas diluídas
numa luz nova.
Um suspirar de galos através dos campos,
lá onde invisíveis cabanas acordam,
cinzentas e obscuras,
porém cheias de deuses sob tetos de palha.
Auriceleste manhã com a brisa da montanha,
a rósea brisa,
desenhando seus giros de libélula
no horizonte de gaze.
Deslizam bois brancos e enormes
de chifres dourados,
- oscilantes cítaras
com borlas vermelhas nas pontas.
As primeiras mulheres assomam à janela do dia,
já cheias de pulseiras e campainhas,
entreabrindo seus véus como cortinas da aurora.
E o caminho vai sendo pontuado
de estrelas douradas,
no bojo dos vasos de cobre,
os vasos de cobre polido que elas carregam
como coroas.
Ai, frescura de rios matinais,
de panos brancos que ondulam ao sol!
Alegrias de água, sussuros de árvores.
O perfil do primeiro pássaro.
E a bela moça morena, com uma rosa na mão
e os dentes cintilantes.
E a postagem de hoje faz parte do livro Poemas Escritos na Índia, escrito por Cecilia Meireles, nascida no Rio de Janeiro dia 7 de novembro de 1901.
(MEIRELES, Cecilia. Seleta em prosa e verso. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1973. pág. 16-17)
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