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domingo, 27 de novembro de 2011

Tarde Amarela e Azul - Cecília Meireles - Poemas escritos na Índia

TARDE AMARELA E AZUL

VIAJO entre poços cavados na terra seca.
Na amarela terra seca.
Poços e poços de um lado e de outro.

Sáris amarelos e azuis,
homens envoltos em velhos panos amarelados,
crianças morenas e dóceis;
tudo se mistura aos veneráveis bois
que sobem e descem em redor dos poços.

Dourados campos solitários,
longas e longas extensões cor de mostarda.
São flores?

Lua do crepúsculo abrindo no céu jardins aéreos,
nuvens de opalas delicadas.

Poços e poços. E mulheres carregando ramos ainda com folhas,
árvores caminhantes ao longo da tarde silenciosa.

Passeiam pavões, reluzentes e felizes.
Caminham os búfalos mansos, de chifres encaracolados.
Caminham os búfalos ao lado dos homens: uma só família.

E os ruivos camelos aparecem como colinas levantando-se,
e passam pela última claridade do crepúsculo.

Todas as coisas do mundo:
homens, flores, animais, água, céu...

Quem está cantando muito longe uma pequena cantiga?

De uma exígua moita,
sai de repente um bando de pássaros:
como um fogo de artifício todo de estrelas azuis.

(E o deserto está próximo.)

De Poemas escritos na Índia.
(MEIRELES, Cecilia. Seleta em prosa e verso. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1973. pág. 20-21)
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3 comentários:

Eder Santos Carvalho disse...

Lindo!Adorei!!

RENATO VIDAL S. disse...

tu poema es realmete hermoso, tu blog me gusto mucho. saludos.

José Gringo Ribeiro disse...

Perfeito poema awesome

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