Em 2007 eu tive a honra de ser aluna desta grande historiadora em um curso sobre Orientalismo. Desde então venho aprofundando minhas leituras referentes ao tema e sigo admirando o trabalho da queridíssima Carmen Licia Palazzo através de suas publicações e do blog.
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O imaginário europeu sobre o Oriente era influenciado também pelas histórias contadas sobre a milenar Rota da Seda, que mergulhava suas raízes na Antiguidade. A denominação de Rota da Seda data do século XIX e foi cunhada pelo explorador e geógrafo Ferdinand Von Richthofen, mas as inúmeras aventuras daqueles que palmilharam sua vasta extensão já eram conhecidas há muitos séculos. Por Rota da Seda entende-se não uma estrada única, mas uma ampla rede de caminhos, trilhas e oásis pelos quais transitaram, desde a Antiguidade e, intensamente durante toda a Idade Média, comerciantes, monges, militares e aventureiros. Motivados por interesses variados, os viajantes, em razão dos inúmeros encontros, foram responsáveis também por um fecundo intercâmbio de ideias e de crenças.
Os monges budistas chineses Fa Xi’an e Xuanzang percorreram o interior da Ásia e deixaram relatos de grande interesse para a pesquisa histórica. O primeiro viajou entre os anos de 399 e 414, e o segundo, entre 629 e 654. Em toda a extensão da Rota da Seda, circulavam, entre outros, budistas, taoístas, confucionistas, zoroastristas, cristãos nestorianos, hinduístas, judeus e, a partir do século VIII, com o início da grande expansão do Islã, também muçulmanos. Viajantes ocidentais, como Marco Polo, Rubruck e Del Carpine percorreram igualmente os caminhos da Rota da Seda e tiveram influência marcante na rica elaboração de imagens do Oriente na Europa com a divulgação de seus relatos
As grutas do oásis de Dunhuang, um importante testemunho material da religiosidade budista, ainda hoje são de grande interesse para os pesquisadores e visitantes que percorrem antigos caminhos em busca de traços do passado. Esse oásis era um ponto de descanso importante para mercadores e peregrinos que se deslocavam entre os extremos orientais e ocidentais da Ásia e entre o norte e o sul do continente. As grutas começaram a ser utilizadas no século III da era atual principalmente por monges chineses e indianos e por outros peregrinos vindos de diversas regiões do continente asiático.
Os religiosos budistas foram se estabelecendo em Dunhuang e formando comunidades que, por sua vez, passaram a receber novos visitantes na medida em que se tornavam mais conhecidas. As grutas mantiveram-se muito frequentadas durante toda a Idade Média especialmente até o século XVI, enquanto durou o período de maior importância da chamada Rota terrestre da Seda. Comerciantes cristãos também faziam de Dunhuang um de seus pontos de descanso e ali foram encontrados documentos que atestam a passagem de nestorianos e outros cristãos orientais.
Antes de seguir caminho, as caravanas encontravam no oásis de Dunhuang repouso, apoio material e conforto para o espírito, através dos ensinamentos dos monges budistas. Como era hábito na época, pediam a proteção para suas jornadas fazendo doações que, através dos anos, foram se concretizando como encomendas regulares de obras de arte. Enriqueciam-se, dessa forma, as paredes das cavernas com um impressionante conjunto de pinturas e esculturas.
No século XIV, problemas provocados pelos deslocamentos dos mongóis levaram ao desenvolvimento da rota marítima, em substituição ao inseguro caminho terrestre que era anteriormente realizado com frequência. Os navios passaram então a tomar a direção do Oceano Índico para chegar à distante China com escalas em diversos portos, o que permitia acrescentar muitos produtos às cargas além da tão procurada seda chinesa, da porcelana e do jade. Nesse percurso, multiplicavam-se não apenas os negócios, mas também as lendas e os contos fantásticos.
Quando, um pouco mais tarde, os navegantes percorrem novas rotas e avançam pelo Atlântico para contornar a África, estão presentes todos os componentes de um imaginário complexo que associa a viagem à aventura, aos lucros e ao maravilhoso.”
PALAZZO, Carmen Licia. Entre mitos, utopias e razão: os relatos franceses sobre o Brasil. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2a edição revisada e ampliada, 2010.
Texto disponível no site da autora:
Um comentário:
Só hoje vi este seu post com o comentário tão gentil a meu respeito. Comecei a seguir o seu blog, achei EXCELENTE! Muito obrigada.
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