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domingo, 27 de novembro de 2011

Tarde Amarela e Azul - Cecília Meireles - Poemas escritos na Índia

TARDE AMARELA E AZUL

VIAJO entre poços cavados na terra seca.
Na amarela terra seca.
Poços e poços de um lado e de outro.

Sáris amarelos e azuis,
homens envoltos em velhos panos amarelados,
crianças morenas e dóceis;
tudo se mistura aos veneráveis bois
que sobem e descem em redor dos poços.

Dourados campos solitários,
longas e longas extensões cor de mostarda.
São flores?

Lua do crepúsculo abrindo no céu jardins aéreos,
nuvens de opalas delicadas.

Poços e poços. E mulheres carregando ramos ainda com folhas,
árvores caminhantes ao longo da tarde silenciosa.

Passeiam pavões, reluzentes e felizes.
Caminham os búfalos mansos, de chifres encaracolados.
Caminham os búfalos ao lado dos homens: uma só família.

E os ruivos camelos aparecem como colinas levantando-se,
e passam pela última claridade do crepúsculo.

Todas as coisas do mundo:
homens, flores, animais, água, céu...

Quem está cantando muito longe uma pequena cantiga?

De uma exígua moita,
sai de repente um bando de pássaros:
como um fogo de artifício todo de estrelas azuis.

(E o deserto está próximo.)

De Poemas escritos na Índia.
(MEIRELES, Cecilia. Seleta em prosa e verso. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1973. pág. 20-21)
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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

 

"(...) vivemos num quarto fechado e pintamos o mundo e o universo nas paredes dele (...)"

SARAMAGO, José. História do Cerco de Lisboa. Rio de Janeiro: O Globo, São Paulo: Folha de São Paulo, 2003. pág. 273.

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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Gosta de livros sobre a Índia?


Criei um grupo no skoob chamado Índia para reunir leitores, apreciadores e admiradores da literatura indiana e sobre a Índia.


Faça parte você também!

=)

Para conhecer o grupo, clique aqui.
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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Os vibrantes vermelhos da Índia

*Postagem sugerida pelo amigo Eder do blog Historia e Arquitetura


Se toda exuberância e exotismo da Índia tivessem de ser dissolvidos numa única cor, com certeza nos veríamos envoltos num mar de diferentes tons de um mesmo e poderoso vermelho.


Presente nos principais momentos da vida religiosa, pessoal e pública dos indianos, o vermelho representa a celebração, alegria, boa sorte e paixão. Neste último aspecto, temos a cor firmemente marcada nas cerimônias de casamento. É ali que reina soberano o vermelho; nas mãos e pés, as tatuagens coloridas de hena enfeitam as noivas com desenhos, seda usada na ocasião é vermelha, geralmente bordada com desenhos arrematados por fios dourados, o fogo - centro do ritual das bodas - é atiçado com produtos que o faz reluzir vermelho. Por fim, o sindoor, pó escarlate que simboliza a bênção e a prosperidade no casamento vai no penteado da noiva. Se o casamento e o sexo ocupam lugar de destaque na cultura hindi, nada mais revelador.

Outro pó vermelho é o gulaal, usado no Festival Holi, o carnaval de rua indiano; é um talco feito de pó de sândalo e corantes extraídos de pétalas de rosas. Ele é jogado nas pessoas como o confete no carnaval do Brasil. É com corantes semelhantes a esses que são feitos os rangoli, desenhos feitos no chão para enfeitar as casas e praças.

Há ainda a conotação religiosa: o vermelho é a cor da veneração a deusa Durga que representa o feminino sagrado. A cor aparece nas oferendas feitas a ela, bem como aparece numa oferenda da natureza aos nossos olhos; no verão, as cores se tornam rubras ao redor das montanhas.

No maior estado da Índia, o Rajastão, turbantes, véus e saias vão do rosa ao vermelho, as jóias são predominantemente feitas de rubi. Vê-se o arenito vermelho nas fachadas das casas, influência herdada da arquitetura mongol.

As pimentas, os xales, as flores, as cerejas, as maças de Kulu, tudo ao redor parece apontar a Índia para essa cor que habita o imaginário tradicional e faz surgir conjuntos concretos impossíveis de serem descritos. Assim sendo, melhor deixar que as imagens falem e deslumbrem com a completa tomada de beleza vermelha que permeia todos os cantos do país.


Os vibrantes vermelhos da Índia | 5 de março de 2008 
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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Manhã de Bangalore - Cecília Meireles

MANHÃ DE BANGALORE

AURICELESTE manhã com as estrelas diluídas
numa luz nova.
Um suspirar de galos através dos campos,
lá onde invisíveis cabanas acordam,
cinzentas e obscuras,
porém cheias de deuses sob tetos de palha.

Auriceleste manhã com a brisa da montanha,
a rósea brisa,
desenhando seus giros de libélula
no horizonte de gaze.

Deslizam bois brancos e enormes
de chifres dourados,
- oscilantes cítaras
com borlas vermelhas nas pontas.

As primeiras mulheres assomam à janela do dia,
já cheias de pulseiras e campainhas,
entreabrindo seus véus como cortinas da aurora.

E o caminho vai sendo pontuado
de estrelas douradas,
aqui, ali, além,
no bojo dos vasos de cobre,
os vasos de cobre polido que elas carregam
como coroas.

Ai, frescura de rios matinais,
de panos brancos que ondulam ao sol!

Alegrias de água, sussuros de árvores.
O perfil do primeiro pássaro.

E a bela moça morena, com uma rosa na mão
e os dentes cintilantes.

E a postagem de hoje faz parte do livro Poemas Escritos na Índia, escrito por Cecilia Meireles, nascida no Rio de Janeiro dia 7 de novembro de 1901.

(MEIRELES, Cecilia. Seleta em prosa e verso. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1973. pág. 16-17)

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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

As marionetes do Rajastão

Esta postagem veio de uma conversa com a Liloca que semanas atrás assistiu a uma apresentação de marionetes do Rajastão, se emocionou com a história, a música e o canto que acompanhavam. Vou reproduzir o vídeo, as informações e impressões dela. Espero que gostem!




O espetáculo é chamado Kathputli, que no idioma do Rajastão significa "Dança de Madeira". As marionetes podem ser adquiridas por turistas e remontam uma grande tradição que está se perdendo um pouco. Este teatro nasce de povos oriundos do deserto, ligado a alma campestre da região do Rajastão e nordeste da Índia.

É uma forma de arte profana já que as marionetes executam truques, danças, canções, mas tocam temas do sagrado com personagens que representam heróis legendários, deuses do Hinduísmo, mestres do Islamismo, além de considerar sensivelmente arquétipos humanos.

O espetáculo apresenta uma grande festa na corte e alguns personagens clássicos deste estilo: a bailarina Anarkali (de origem real, uma plebéia pela qual se apaixonou um homem da corte, relacionado à história da dinastia que construiu o Taj Mahal), o encantador de serpentes, um malabarista, um equilibrista sobre um cavalo…
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